quarta-feira, 3 de março de 2010

Evangelho versus Religião

A pergunta costumeira que ouço algumas vezes é “Deus me livrou do quê?” No entanto a pergunta que raramente ouço, e é a que considero correta, é “Deus nos livrou para quê? (Emil Brunner) Essa última questão nos remete ao propósito da nossa liberdade.

Jesus certa vez disse: “Vinde a mim todos os que estão cansados e sobrecarregados e eu aliviarei vocês. Tomai sobre vocês o meu jugo e aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt. 11v.?) Essa é a liberdade para a qual Cristo nos libertou. Liberdade da religião. Jesus pronunciou estas palavras terapêuticas num contexto religioso extremamente rígido, que impunha sobre as pessoas um sistema de escravidão. Uma religião legalista que tinha como preocupação principal seguir as minúcias da religião. Religião exterior, preocupada em como agir certo diante da sociedade, de moral hipocrita, como todo bom moralista! O versículo citado acima é uma verdade para nós ainda hoje em dia. Não poucas vezes, o “evangelho” é pregado sem a sua simplicidade, acabando por acorrentar as pessoas em vez de libertá-las. Tais pessoas, ansiosas para encontrar Cristo e serem livres para poder sentir o julgo suave prometido por Cristo, terminam por encontrar um sistema dez vezes mais pesado e aprisionador do que aquele no qual viviam antes.

O julgo da religião farisaica sobrevive na atualidade com uma roupagem de evangelho. Os sacerdotes e sumo sacerdotes de dois mil anos atrás - os mesmos que mataram Jesus - estão vivos entre nós, pregando, cantando e escravizando pessoas em nome Dele, com uma religião amendrontradora, legalista, hipócrita e farisaica. E, o pior de tudo: crucificando o filho de Deus mais uma vez. Estabelecendo sutis indulgências e propagando a religião das obras, retrocedendo ao medievalismo, e jogando fora o melhor da reforma: a liberdade de pensar.

Na atualidade o evangelho não é mais proclamado, mas imposto. Não se pode refletir e omitir opiniões. Não se pode questionar. A preocupação é construir impérios em nome da fé, investir em prédios de cimento, em televisões, e não em pessoas. É o poder que está em jogo! Não o evangelho. Gasta-se mais tempo em estudos de marketing religioso do que em bons sermões. O ensino da Palavra de Deus foi substituído por milagres constantes, a toda hora. A salvação pela graça deixou de ser interessante; o cristão hoje prefere ouvir como Deus dará em dobro quando se dizima, como Deus se agrada quando a igreja está cheia, não importa se as pessoas ali estejam vazias – inclusive as que estão com o microfone em mãos.

Há uma passagem bíblica que Jesus expulsa uma legião de demônios de um jovem e os lança aos porcos. Mais tarde, os donos dos porcos, em vez de agradecerem a Jesus, o mandam embora, pois perderam muito dinheiro. A mente religiosa dos evangélicos modernos são como as pessoas deste episódio, estão tão acostumadas a ouvirem religião com rótulo de evangelho que, quando o evangelho simples de Jesus é pregado, fazem como os donos dos porcos e acabam expulsando Jesus. O evangelho de Jesus não tem nada a ver com dinheiro, com dízimo, nem com propaganda de cura com a intenção de exaltar determinada denominação como se Deus habitasse entre paredes. O evangelho não é meio de vida. Jesus anda com as prostitutas, com os marginalizados, com os pobres, os pecadores, com todos aqueles que a igreja moderna repudia e olha com nojo quando adentra ao templo, isto mesmo: templo, porque nós somos a igreja.

Eis algumas idéias interessantes:

O evangelho aceita o diferente, o ampara, cumprimenta os desconhecidos, compadece das suas dores, sofre junto, ajuda a caminhar, tem compaixão.

A religião é preconceituosa, não admite que se ande com determinados tipos de pessoas. Quantas vezes já ouvi de pastor: “não ande com os infiéis”. E Jesus, andava com quem? A religião não aceita o diferente, é preconceituosa.

O evangelho anuncia a vida que está em Cristo e direciona a essência que nos une em amor.

A religião enfatiza as diferenças que desune. Proclamam dogmas, leis e regras como verdades absolutas, e, portanto inquestionáveis. Ela é intolerante para os fracos na fé e os que são de outra denominação ou religião.

O evangelho propaga a esperança e diz que Cristo nos aceita e é depois – e por isso – que obedecemos. É graça.

A religião propaga o terror, o medo, o inferno aos pecadores, como se entre eles não houvesse algum pecador. A religião ensina que por meio da obediência somos aceitos por Deus. “Fazer por merecer”. Eu faço, pago o preço, jejuo no milho, oro na mata, dou o dízimo por isso Deus me abençoa. Não existe graça, é esforço humano, sacrifício de troca.

O evangelho não liga para a popularidade. Está disposto a servir a humanidade, ao próximo. Nega qualquer tipo de poder e não busca sua própria glória.

O religioso e sua religião buscam a popularidade, o poder. Fazem dos homens seus servos. É um meio de vida.

O evangelho nos ensina a dizer sempre a verdade sem se preocupar com as conseqüências. Não deixar de dizer só pra ter um cargo na igreja ou ganhar dinheiro. O evangelho é pratico, não é sermão teórico. Jesus falou e fez. Assumiu as conseqüências por dizer a verdade.

A religião faz com que o religioso não tenha compromisso com a própria consciência. Negligencie “detalhes” pra satisfazer os líderes da sua religião. Busca o poder. Quer a fama, a glória. Não respeita a Cristo.

O evangelho é graça.

Religião, uma desgraça.

Escrito por Diogo Crotti

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