sexta-feira, 4 de junho de 2010

OI

Ainda não há nada neste item.

É o cara do Balão Mágico


Em homenagem ao pessoal das antigas. Essa super mega capa altamente estilizada e religiosamente definida "criança predestinada".

terça-feira, 25 de maio de 2010

Moçaterapia


Esse é uma raridade por três bons motivos:
1) pelo design criativo da capa, que expõe vários recortes de papeis sugerindo mais que uma massagem por parte da moça.
2) porque o Silvio Santos tá na capa (ao lado direito um pouco abaixo do centro) exibindo um sorriso como se estivesse dizendo: "Eu tenho várias moçaterapias pra me amassar".
3) o último e não menos importante é que o livro é Primeira edição. Obra raríssima e segundo me consta todos os grandes bibliófilos do mundo a possuem em suas bibliotecas.

Capa Erotica


Essa capa é a obra prima do erotismo libertador que trouxe felicidades às mulheres presas pelos grilhões do patriarcado moderno.
Prestem atenção na sensualidade da modelo e no detalhe dos "O" se unindo. O que será que isto quer dizer? Imaginem vocês... Mas lembrem-se esse livro é contra a imoralidade!!!

Família Feliz



Se você acha que não é um bom pai ou uma boa mãe e que seus filhos não lhe obedecem, aproveite pra ter todos esses problemas familiares resolvidos com o super, mega e extraordinário livro chamado "Família feliz: para viver em paz e harmonia", do autor Pedro FRACASSO. Se o método ensinado no livro facassar, não é culpa do autor.

quarta-feira, 10 de março de 2010

A igreja e o mundo de hoje

Quem foi Jesus? É uma indagação com várias respostas. Alguns identificam-no como revolucionário, comunista, pacifista e até o cumulo de chamá-lo de gay. Dentre todas as opções acima, com exceção da última, há elementos nos evangelhos que podem substanciar estes argumentos, todavia, a partir de uma retro leitura, que no caso não confere validade ao contexto histórico de Cristo. Antes de tomar a figura histórica de Cristo como pressuposto ideológico, convém salientar qual era o objetivo primeiro de Cristo. Por que veio ao mundo?

Veio para salvar os homens, dar sua vida em redenção, buscar as ovelhas desgarradas, sua missão é de caráter religioso e não político como pensavam alguns. Isto não significa dizer que Jesus não se importava com a política, com a ética. Suas palavras não estavam dissociadas da sua maneira de viver, suas atitudes confrontavam o sistema político e religioso, “ A ética vivida e proposta por Jesus não é parte justaposta à sua vida e à sua mensagem religiosa.” (VIDAL. p. 11) Ele criticou duramente os fariseus com seu formalismo ritualistico.

O modo de Jesus agir propunha desmascarar falsas idéias dominantes, conceitos religiosos que não faziam mais sentido para sua época, libertando o povo do julgo dos fariseus mais preocupados com a lei do que com a mudança do coração, a “purificação da consciência”. Sua ética era contextualizada e não ascética, meramente teórica. Teoria e prática andavam juntas com Cristo. Buscava a “conversão radical do homem” (Vidal p. 34), já que este tinha perdido seu valor. Cristo valorizava o homem, respeitava , estimava.

A conversão era renúncia de valores falsos e moral decaída, os seguidores de Cristo vivem valores do Reino e “criam” uma moral a partir de Cristo que transforma a vida interior e uma pessoa transformada muda a sociedade onde vive. Somos o reflexo de Cristo na terra. Jesus propagou a igualdade, serviço , amor e doação ao próximo rejeitando a exclusão, a violência e o egocentrismo de sistemas manipuladores.

O “Reino de Deus está entre nós”, mas quais são os valores do Reino? Vivemos o Reino hoje em dia? O Reino assume valores contrários à ética mundana do Seu tempo, novos valores são apresentados aos homens (Mt.5 v. 3-10). O Reino de Deus é visto como prioridade, algo insubstituível, tudo o mais perde o valor diante deste evento. A justiça reina, “justiça maior que a dos escribas e fariseus” (Mt. 5 v. 20)

Quanto à política, Jesus não legitimou a autoridade suprema a César. Ele limitou a atuação do Estado a uma obediência maior, a Deus, porém reconhece o valor do Estado ao bem do povo. Jesus é o Senhor, esta afirmação é bem perigosa, já que naqueles dias havia o culto ao Imperador. De forma geral, Jesus não admiti a absolutização do Estado, o cristão deve oferecer condições para que o Estado governe , mas pode ir contra quando este vai em direção contrária a Deus, o Estado é necessário e útil dentro do contexto histórico, não pode ser negado, a prioridade entretanto é ao Reino de Deus.

Os seguidores de Cristo, os apóstolos, reagiam diante da política de qual forma? Paulo disse, “Submetam as autoridades constituídas...” (Rm. 13 v. 1-7), isto não propõe obediência cega ao Estado, pelo contrário, como já foi dito, obedecê-lo enquanto não tenta tomar o que pertence a Deus, “Dai a Deus o que é de Deus e a César o que é de César”. O pano de fundo quando o cristianismo surgiu em relação a religião romana era de declínio e o crescimento das religiões de mistérios. A filosofia vigente era o Epicurismo e o Estoicismo e a moral de forma geral era decadente principalmente entre os poderosos, a Aristocracia, é diante destes fatos que Jesus e seus discípulos agiam e pregavam. Pensaram e refletiram a ética de Cristo dentro da sua cultura e dos seus problemas. Sendo imitadores de Deus, cabe a nós pensar e propor uma ética cristã para o tempo em que vivemos, do mesmo modo como todos os grandes pensadores analisaram e buscaram respostas para problemas reais da sua sociedade, hoje é a nossa vez.

“Qual seria a teologia de que precisamos hoje?” (KUNG. p.215) indaga Hans Kung. Diante dos fatos presenciados por milhares de brasileiros, da podridão do congresso com mensalão, sanguessuga e caixa dois, de justiça não realizada, de discursos vazios de sentido com a intenção sofista de enganar os ouvintes, dá idéia transmitida para os telespectadores de que os homens eleitos pelo povo fazem-nos de palhaços, danças comemorativas e saídas intelectuais de primeira classe. Diante destes fatos cabe uma pergunta , será que a educação e o conhecimento podem mudar realmente alguém? Seria extremista em afirmar que não, mas por outro lado afirmo um sim, não são eles que exibem orgulhosamente seus títulos de mestres, doutores, não são eles o exemplo do povo em quem devêssemos nos inspirar? Sim boa parte nos inspira, ao roubo, à mentira, à falsidade, eles não são mais referência a ninguém, hoje não se vota em um bom candidato, mas em alguém que rouba menos.

Esta perda de referência de identidade é generalizada, a sociedade vive a secularização, tudo tornou-se comum e conformista, os políticos roubam, pastores manipulam seus fiéis, não faz mal desde que eu esteja bem. Hoje não há encanto na vida na contemplação estética da obra de arte da música com letras inteligentes, preferem as letras lascivas do funk onde mulheres oferecem gratuitamente seus corpos em danças sensuais, a mulher mais do que nunca tem perdido seu valor tornando-se um objeto de consumo.

Não faz mais sentido reunir doze apóstolos e manter um ambiente de comunhão na Igreja, lá ninguém conhece quase ninguém, a não ser os mais íntimos, impera o individualismo e à busca pela felicidade a qualquer custo. Jesus morreu por todos, hoje se alguém tiver que morrer é por si mesmo, não existe relações profundas de amizades, tudo fica no plano do obvio, na Igreja a busca é pela sensação de prazer de felicidade. Quantas vezes ouvimos, “vou nessa igreja porque me sinto bem”, quando perde a sensação abandona o barco e procura outra. Como percebe-se muito claramente, o trânsito de membros de uma denominação à outra e isto acontece freqüentemente, também com tantas opções no mercado religioso fica fácil escolher, tem a igreja só dos carismas, a do sucesso econômico, a do amor tudo é livre, a da lei nada é permitido e assim vai. A igreja tem se tornado o mercado do consumismo como um shopping Center, só pego aquilo que é interessante no sermão do pastor, o que toca a ferida e não dá prazer, mas produz reflexão, não serve e ainda usa o versículo das Escrituras para apoiar e dar paz a consciência “retende o que é bom”.

Sociedade de hoje é moldada pela mídia a uma super valorização do corpo, ou seja quem não está no padrão de garoto “bombado” está fora da moda, as adolescentes que não conseguem se enquadrar no estilo “magrinha” são postas de lado, e acabam sofrendo psicologicamente. A ênfase está em aproveitar a vida, usufruir dos benefícios do corpo, ou melhor, do prazer que ele oferece sem compromisso e responsabilidade, tudo inicia e acaba na mesma noite, o importante é o prazer.

O superficialismo acaba por banalizar os relacionamentos, a desconfiança substitui a confiança e qualquer um pode ser tachado de “maloqueiro”, como acontece não raramente com pessoas da periferia. Nesse pluralismo de hoje não há religião exclusiva tradicional, as que tentam manter certa tradição acabam por se auto-excluir das pessoas, surgem como opção novos movimentos religiosos oferecendo novas idéias. Como já foi referido acima, gera a mobilidade dos membros e a espiritualidade deixa de ser ascética voltada à contemplação e torna-se prática “faça isso e Deus realizará seu desejo”.

De forma geral a sociedade de hoje valoriza o “Eu”. Os afetos, sentimentos, emoções e desejos, tornam-se uns fins em si mesmos. No pensamento rompe contra sistemas acabados (fechados), mais adeptos às mudanças a algo fixo. Na moral os valores estão em transformações constantes, existem muitos caminhos: Individualismo, superficialismo, secularismo e pluralismo, isto é a pós-modernidade.

“Estamos eticamente confusos, porque perdemos nossos referenciais, e não sabemos nem como buscá-los, porque eles só são encontrados na solidariedade. Não nos enganemos: o próprio Deus só é encontrado no próximo” (AMORESE. p. 206) a melhor opção neste caso, é uma postura ética e clara da igreja contra essa relatividade da verdade e tudo aquilo propagado pela pós-modernidade. A escolha pela ética é uma proposta que Kung afirma, “Não devem ser os problemas do passado a ter prioridade mas sim os problemas universais e multifacetados do ser humano e da sociedade humana actual” . Guerras feitas em nome de Deus por cristãos que afirmam o amor ao próximo por mero interesse político e econômico. Este quadro deve ser revertido o mundo precisa conhecer a Igreja do amor, da solidariedade, da paz, a tolerância e o respeito devem ser visto como uma possibilidade para um mundo melhor.

Não há como afirmar uma solução para os conflitos do mundo pós-moderno não existe uma resposta pronta capaz de dar conta desses fatos. O caminho possível a se seguir, em relação a Igreja “é ser igreja: ser e oferecer-se ao mundo como comunidade da solidariedade, da esperança, do amor, da aliança... A medida que absorve a crise ética e nela se perde, ela se descaracteriza enquanto igreja, e se torna útil apenas para ser lançada e pisada pelos homens” (AMORESE. p. 44)

A postura da Igreja tem que ser clara definida, enquanto impera o individualismo ela oferece o coletivismo, não estou salvo, ou salvação individual, antes nós estamos salvos, salvação coletiva, Cristo vem buscar uma Igreja, não uma pessoa. Educar os membros a aprofundar o amor de Cristo conhecer o outro o irmão, que chamamos de irmão porque não sabemos o nome e temos vergonha de perguntar já que ambos eu e ele estamos na Igreja a um bom tempo !. Voltar a sacralizar nosso corpo, a Igreja, que é a imago mundi, segundo Mircea,

Mas estrutura cosmologica do Templo permite uma nova valorização religiosa: lugar santo por excelência, casa dos deuses, o Templo ressantifica o Mundo, uma vez que o representa e o contém ao mesmo tempo. Definitivamente, é graças ao Templo que o Mundo é ressantificado na sua totalidade. (ELIADE. p. 56)


Enquanto o pluralismo oferece vários caminhos, apresentemos um só Jesus Cristo, o Senhor.

REFERÊNCIAS:



VIDAL,. Para conhecer a ética cristã. Edições Paulinas. 1989. São Paulo

KUNG, Hans. Os grandes pensadores do cristianismo. Editorial Presença.1999. Lisboa

AMORESE, Rubem. Excelentíssimos senhores. Ultima Editora. Minas Gerais. 1995

ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. Martins Fontes. São Paulo. 2001

Diogo Crotti

quinta-feira, 4 de março de 2010

Jornalista critica autoridade pastoral

Há abusos em nome de Deus”

Jornalista relata os danos do assédio espiritual cometido por líderes evangélicos

Kátia Mello

A igreja evangélica está doente e precisa de uma reforma. Os pastores se tornaram intermediários entre Deus e os homens e cometem abusos emocionais apoiados em textos bíblicos. Essas são algumas das afirmações polêmicas da jornalista Marília de Camargo César em seu livro de estreia, Feridos em nome de Deus (editora Mundo Cristão), que será lançado no dia 30. Marília é evangélica e resolveu escrever depois de testemunhar algumas experiências religiosas com amigos de sua antiga congregação.

ENTREVISTA - MARÍLIA DE CAMARGO CÉSAR

QUEM É

Marília de Camargo César, 44 anos, jornalista, casada, duas filhas

O QUE FEZ

Editora assistente do jornal O Valor, formada pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero

O QUE PUBLICOU

Seu livro de estreia é Feridos em nome de Deus (editora Mundo Cristão)

ÉPOCA – Por que você resolveu abordar esse tema?

Marília de Camargo César – Eu parti de uma experiência pessoal, de uma igreja que frequentei durante dez anos. Eu não fui ferida por nenhum pastor, e esse livro não é nenhuma tentativa de um ato heroico, de denúncia. É um alerta, porque eu vi o estado em que ficaram meus amigos que conviviam com certa liderança. Isso me incomodou muito e eu queria entender o que tinha dado errado. Não quero que haja generalizações, porque há bons pastores e boas igrejas. Mas as pessoas que se envolvem em experiências de abusos religiosos ficam marcadas profundamente.

ÉPOCAO que você considera abuso religioso?

Marília – Meu livro é sobre abusos emocionais que acontecem na esteira do crescimento acelerado da população de evangélicos no Brasil. É a intromissão radical do pastor na vida das pessoas. Um exemplo: uma missionária que apanha do marido sistematicamente e vai parar no hospital. Quando ela procura um pastor para se aconselhar, ele diz: “Minha filha, você deve estar fazendo alguma coisa errada, é por isso que o teu marido está se sentindo diminuído e por isso ele está te batendo. Você tem de se submeter a ele, porque biblicamente a mulher tem de se submeter ao cabeça da casa”. Então, essa mulher pede um conselho e o pastor acaba pisando mais nela ainda. E usa a Bíblia para isso. Esse é um tipo de abuso que não está apenas na igreja pentecostal ou neopentecostal, como dizem. É um caso da Igreja Batista, que tem melhor reputação.

ÉPOCA – Seu livro questiona a autoridade pastoral. Por quê?

Marília – As igrejas que estão surgindo, as neopentecostais (não as históricas, como a presbiteriana, a batista, a metodista), que pregam a teologia da prosperidade, estão retomando a figura do “ungido de Deus”. É a figura do profeta, do sacerdote, que existia no Antigo Testamento. No Novo Testamento, Jesus Cristo é o único mediador. Mas o pastor dessas igrejas mais novas está se tornando o mediador. Para todos os detalhes de sua vida, você precisa dele. Se você recebe uma oferta de emprego, o pastor pode dizer se deve ou não aceitá-la. Se estiver paquerando alguém, vai dizer se deve ou não namorar com aquela pessoa. O pastor, em vez de ensinar a desenvolver a espiritualidade, determina se aquele homem ou aquela mulher é a pessoa de sua vida. E ele está gostando de mandar na vida dos outros, uma atitude que abre um terreno amplo para o abuso.

ÉPOCA – Você afirma que não é só culpa do pastor.

Marília – Assim como existe a onipotência pastoral, existe a infantilidade emocional do rebanho. A grande crítica de Freud em relação à religião era essa. Ele dizia que a religião infantiliza as pessoas, porque você está sempre transferindo suas decisões de adulto, que são difíceis, para a figura do pai ou da mãe, substituí¬dos pelo pastor e pela pastora. O pastor virou um oráculo. Assim é mais fácil ter alguém, um bode expiatório, para culpar pelas decisões erradas.

ÉPOCA – Quais são os grandes males espirituais que você testemunhou?

Marília – Eu vi casamentos se desfazer, porque se mantinham em bases ilusórias. Vi também pessoas dizendo que fazer terapia é coisa do diabo. Há pastores que afirmam que a terapia fortalece a alma e a alma tem de ser fraca; o espírito é que tem de ser forte. E dizem isso apoiados em textos bíblicos. Afirmam que as emoções têm de ser abafadas e apenas o espírito ser fortalecido. E o que acontece com uma teologia dessas? Psicoses potenciais na vida das pessoas que ficam abafando as emoções. As pessoas que aprenderam essa teologia e não tiveram senso crítico para combatê-la ficaram muito mal. Conheci um rapaz com muitos problemas de depressão e de autoestima que encontrou na igreja um ambiente acolhedor. Ele dizia ter ressuscitado emocionalmente. Só que, com o passar dos anos, o pastor se apoderou dele.

ÉPOCA – Qual foi a história que mais a impressionou?

Marília – Uma das histórias que mais me tocaram foi a de uma jovem que tem uma doença degenerativa grave. Em uma igreja, ela ouviu que estava curada e que, caso se sentisse doente, era porque não tinha fé suficiente em Deus. Essa moça largou os remédios que eram importantíssimos no tratamento para retardar os efeitos da miastenia grave (doença autoimune que acarreta fraqueza muscular). O médico dela ficou muito bravo, mas ela peitou o médico e chegou a perder os movimentos das pernas. Ela só melhorou depois de fazer terapia. Entendeu que não precisava se livrar da doença para ser uma boa pessoa.

“O pastor está gostando de mandar na vida dos outros
e receber presentes. Isso abre espaço para os abusos”

ÉPOCA – Por que demora tanto tempo para a pessoa perceber que está sendo vítima?

Marília – Os abusos não acontecem da noite para o dia. No primeiro momento, o fiel idealiza a figura do líder como alguém maduro, bem preparado. É aquilo que fazemos quando estamos apaixonados: não vemos os defeitos. O pastor vai ganhando a confiança dele num crescendo. Esse líder, que acredita que Deus o usa para mandar recados para sua congregação, passa a ser uma referência na vida da pessoa. O fiel, por sua vez, sente uma grande gratidão por aquele que o ajudou a mudar sua vida para melhor. Ele quer abençoar o líder porque largou as drogas, ou parou de beber, ou parou de bater na mulher ou porque arrumou um emprego. E começa a dar presentes de acordo com suas posses. Se for um grande empresário, ele dá um carro importado para o pastor. Isso eu vi acontecer várias vezes. O pastor gosta de receber esses presentes. É quando a relação se contamina, se torna promíscua. E o pastor usa a Bíblia para legitimar essas práticas.

ÉPOCA – Você afirma que muitos dos pastores não agem por má-fé, mas por uma visão messiânica...

Marília – É uma visão messiânica para com seu rebanho. Lutero (teólogo alemão responsável pela reforma protestante no século XVI) deve estar dando voltas na tumba. O pastor evangélico virou um papa, a figura mais criticada pelos protestantes, porque não erra. Não existe essa figura, porque somos todos errantes, seres faltantes, como já dizia Freud. Pastor é gente. Mas é esse pastor messiânico que está crescendo no evangelismo. A reforma de Lutero veio para acabar com a figura intermediária e a partir dela veio a doutrina do sacerdócio universal. Todos têm acesso a Deus. Uma das fontes do livro disse que precisamos de uma nova reforma, e eu concordo com ela.

ÉPOCA – Se a igreja for questionada em seus dogmas, ela não deixará de ser igreja?

Marília – Eu não acho. A igreja tem mesmo de ser questionada, inclusive há pensadores cristãos contemporâneos que questionam o modelo de igreja que estamos vivendo e as teologias distorcidas, como a teologia da prosperidade, que são predominantemente neopentecostais e ensinam essa grande barganha. Se você não der o dízimo, Deus vai mandar o gafanhoto. Simbolicamente falando, Ele vai te amaldiçoar. Hoje o fiel se relaciona com o Divino para as coisas darem certo. Ele não se relaciona pelo amor. Essa é uma das grandes distorções.

ÉPOCA – No livro você dá alguns alertas para não cair no abuso religioso.

Marília – Desconfie de quem leva a glória para si. Uma boa dica é prestar atenção nas visões megalomaníacas. Uma das características de quem abusa é querer que a igreja se encaixe em suas visões, como querer ganhar o Brasil para Cristo e colocar metas para isso. E aquele que não se encaixar é um rebelde, um feiticeiro. Tome cuidado com esse homem. Outra estratégia é perguntar a si mesmo se tem medo do pastor ou se pode discordar dele. A pessoa que tem potencial para abusar não aceita que se discorde dela, porque é autoritária. Outra situação é observar se o pastor gosta de dinheiro e ver os sinais de enriquecimento ilícito. São esses geralmente os que adoram ser abençoados e ganhar presentes. Cuidado.

Extraído do site: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI79268-15228,00-HA+ABUSOS+EM+NOME+DE+DEUS.html
Entrevista concedida no dia 26/06/2009